Grupos
Teatrais - Boa Companhia
A dois passos da virada do milênio,
o homem depara-se cada vez mais com as questões que sua própria
evolução gerou. De um simples polegar em oposição
à possibilidade de destruir o planeta inteiro apertando um
botão. A história do homo sapiens dá o que
pensar.
PRIMUS é o novo espetáculo da BOA COMPANHIA, que busca
refletir sobre esse gigantesco percurso, unindo suas extremidades:
o homem e o macaco. Baseado no conto "Comunicado Para Uma Academia",
de Franz Kafka, o espetáculo conta a história de um
macaco que, para garantir seu lugar ao sol, aprendeu a ser homem
e tornou-se um pop-star do teatro de variedades. Os atores, ora
feras amestradas, ora amestradores, cantam, tocam e até sapateiam.
Afinal, todos precisamos de um lugar ao sol. Enquanto ainda há
sol.
A peça recebeu recentemente três
importantes prêmios no Festival Internacional de São
José dos Campos: prêmio "Plínio Marcos"
( melhor espetáculo eleito pelo júri popular ), prêmio
de direção revelação e prêmio
especial do júri para todo o elenco.
Depois de sua estréia na Confraria
da Dança em outubro de 99, PRIMUS, encenado pela Boa Companhia
com direção de Verônica Fabrini, volta em cartaz
na Sede do Lume, que comemora em 2000 quinze anos de atuação.
Questões relativas a superioridade
do humano frente à natureza, os limites entre natureza e
cultura, entre necessidade e liberdade, são alguns dos instigantes
questionamentos trazidos pelo conto. Isto nos fez buscar um diálogo
entre duas realidades: a do conto de Kafka e a nossa. Afinal "500
Anos de Brasil" nos levam a pensar no processo de colonização
também como um processo de domesticação, adestramento
ou completo extermínio de todos os povos "primitivos"
que aqui viviam.
Fechando um pouco mais o foco, a solução
encontrada por nosso personagem – entrar para o teatro de
variedades – apresenta-se para nós, atores, quase como
uma ironia. Ela traz à tona as contradições
próprias da nossa profissão: o ator como um "macaco
amestrado", como um objeto de curiosidade versus a inversão
de poder quando se alcança a fama. Ou ainda, a dificuldade
de manter-se crítico à nossa realidade e ao mesmo
tempo viver da nossa arte. Como traduzir essas inquietações,
magistralmente exploradas por Kafka para cena? Primus é a
nossa tentativa. Antes de tudo, um grito de alerta. Um chamado selvagem.
Vale ressaltar neste momento em que as universidades
públicas paulistas estão em greve, que tanto o Lume
quanto a Boa Companhia têm vínculos diretos ou indiretos
com a Unicamp, deixando claro que a Universidade pública
, gratuita e independente, pode e deve gerar bons frutos
|