Revista Metropole
Biblioteca da natureza

A Mata de Santa Genebra é a segunda maior reserva florestal em área urbana do Brasil. Mas se a cidade quiser continuar a ter orgulho desse patrimônio, terá que amá-lo de verdade

Maristela Tesseroli
maristela@rac.com.br

Singela como os pequenos animais que ali se abrigam, modesta como a maioria das árvores que a compõe, a reserva de Santa Genebra guarda em si um tesouro de valor incalculável.

Os parcos 250 hectares que restaram da mata nativa de outrora e que se encontram hoje pressionados entre canavial e área urbana constituem verdadeira relíquia dessas campinas.

Considerada uma das principais amostras remanescentes da grande Floresta Atlântica que, até meados do século 18, cobria quase todo o território das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, a mata de Santa Genebra é considerada hoje a segunda maior reserva florestal em área urbana do Brasil, perdendo somente para a floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Motivo mais que suficiente para fazer da mata, localizada no distrito de Barão Geraldo, um motivo de orgulho – e especialmente de cuidados – para cidadãos campineiros.

“A Mata de Santa Genebra é um documento vivo do passado original da cidade, uma biblioteca da natureza”, afirma o jornalista José Pedro Martins, organizador do livro Panorama do Meio Ambiente – Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), recém-lançado pela Editora Komedi numa parceria com a 3S Projetos e com o apoio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura.

Com o objetivo de catalogar e caracterizar a biodiversidade e os recursos naturais das bacias hidrográficas do Estado de São Paulo, a Komedi e a 3S Projetos reúnem, neste primeiro volume, a região das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí por sua importância estratégica não apenas para o Estado, mas também para o Brasil.

“Buscamos, em todo o livro, lançar um olhar amoroso sobre essa região a fim de despertar nos leitores atitudes também amorosas para com nossos recursos naturais. Afinal, ao lado da sobrevivência das florestas, é o futuro de nossa própria espécie que está em jogo”, adverte José Pedro Martins.

Por sua importância e relevância não apenas para a cidade, mas para toda a região de Campinas, a reserva de Santa Genebra foi incluída no livro em capítulo que trata das áreas protegidas.

Pertencendo originalmente à Fazenda de Santa Genebra, de propriedade da família de Jandyra Pamplona de Oliveira, a mata foi doada ao município na década de 1980, durante a gestão do então prefeito José Roberto Magalhães Teixeira. A partir daí, foi transferida à cidade a responsabilidade de proteger a área.

“Caso seja constatada uma perda de cobertura vegetal, por exemplo, a reserva volta a ser propriedade da família. Hoje, a mata é tombada e vem sendo gerida por uma fundação”, explica José Pedro Martins.

Formando uma barreira cheia de vida entre a cidade de Campinas e o maior pólo petroquímico do Brasil, que está em Paulínia, a reserva guarda ainda centenas de espécies vegetais e dezenas de espécies animais.

“Mas o isolamento a que a mata foi submetida comprometeu-lhe a saúde”, explica Dionete Santin, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e co-autora do livro. “Apesar de sua aparência viçosa, há muitas clareiras sem quaisquer árvores, muitas espécies animais em vias de extinção e outras tantas espécies vegetais ameaçadas. Hoje, a mata não tem condições de se recuperar sozinha. Faz-se necessária uma intervenção antrópica, ou seja, uma interferência direta do homem, com critérios e conhecimento técnico, para recompor a floresta”.

Motivos para amar

Razões para amar não apenas a reserva de Santa Genebra, mas a Mata Atlântica como um todo, ou melhor, para amar aquilo que restou da floresta mais agredida do planeta não faltam.

Para começar, é bom saber que a Mata Atlântica abriga a maior diversidade de espécies animais e vegetais do mundo. “Mais do que a Floresta Amazônica, inclusive”, lembra a também jornalista Regina Helena de Paiva Ramos, em seu livro Mata Atlântica – Vinte Razões para Amá-la, lançado pela Musa Editora.

Na introdução da obra, Regina lembra que na época do descobrimento, a Mata Atlântica ocupava nada menos que um milhão de quilômetros quadrados. Hoje, restaram apenas entre 6% a 7% desse total – entre os quais inclui-se a Mata de Santa Genebra – que continuam desempenhando papel importantíssimo para o ser humano, entre eles, regular as chuvas e as águas.

“No dia em que ela desaparecer, mudará o regime das chuvas e as nascentes deixarão de existir”, alerta. Entre as razões para amar a Mata, Regina destaca no livro a história e o folclore que cercam 20 espécies vegetais dessa floresta, entre elas pitanga, jacarandá, jequitibá, cajueiro e paineira, relatando as várias maneiras de utilização das espécies na culinária tradicional brasileira e até na medicina popular.

Ela ressalta ainda que um dos maiores destaques da mata original era o pau-brasil, hoje quase uma relíquia existente apenas no sul da Bahia.

Serviço

Panorama do Meio Ambiente – Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ). Editora Komedi, 144 páginas. Organização: José Pedro Martins. Fotos: Tomas May e Marcos Paulo de Moraes. Preço: R$ 55,00

Mata Atlântica – Vinte Razões para Amá-la. Musa Editora, 104 páginas. Autora: Regina Helena de Paiva Ramos. Preço: 69,00

Passeios monitorados pela Mata de Santa Genebra acontecem no último sábado do mês, às 9h30. Para realizar a visita, é obrigatório o uso de calça comprida e sapato fechado. Ingresso gratuito. Maiores informações, f. 3289-2886.



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